Como a internet e os ebooks podem mudar a produção e propagação de conteúdo sobre o tema
Sempre que encontro um novo livro sobre marketing digital, leio algumas páginas, acho alguma reflexão ou perspectivas interessantes, mas sempre paro na hora dos exemplos. Isso porque tudo parece muito datado. Vocês já sentiram que, ao ler alguma história de sucesso em marketing digital em uma página impressa, conseguiriam nomear outros tantos casos, todos mais recentes?
Parti para uma reflexão: faz sentido publicar livros impressos sobre marketing digital? Não seria melhor investir em formatos atualizáveis, como blogs, sites ou até mesmo ebooks ou plataformas colaborativas?
Antes mesmo de começar, vale lembrar que não sou contra a criação de conteúdo sobre marketing digital, apenas estou questionando o atual modelo. Entrei em contato com pessoas que já trabalharam com a publicação e a produção de textos sobre o tema. O resultado foi um punhado de conclusões positivas e negativas sobre as formas como propagamos conhecimento hoje em dia.
O mercado editorial nunca foi um clubinho muito fácil de entrar. Independentemente do seu nível de talento, do tipo da sua obra e, às vezes, até dos seus contatos, a batalha para ser publicado é extremamente árdua. Eu sei bem disso, já que demorei bastante para publicar meu primeiro romance. Por ser muito demorado e excludente, o processo de seleção das editoras deixa muitas obras de fora, o que impede uma pluralidade maior de perspectivas e teorias.
Esse modelo mais engessado das editoras também dificulta que livros já lançados recebam edições revisadas. Isso depende muito das vendas, que determinam novas tiragens e, consequentemente, modificações e adendos de novos exemplos. O estudo mais recente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros mostrou um crescimento real de apenas 0,8% no faturamento do setor e de 6% no número de títulos editados em 2011, comparado ao ano anterior.
Essas maravilhas intelectuais que são os livros trazem, porém, um benefício para aqueles que resolvem escrever sobre marketing digital – e outros temas também: credibilidade. O livro é uma credencial, um selo que distingue aquele autor de outros tantos autointitulados “especialistas em mídias sociais”. O processo para entrar em uma editora está tão trabalhoso, que, poxa, talvez a pessoa com o nome na capa saiba realmente do que está falando. “A dificuldade acaba validando e reafirmando a qualidade do que o autor quer mostrar”, afirma Conrado Adolpho, professor e autor do livro impresso Os oito Ps do marketing digital e do ebook Você já tem um plano B?.
Renovação e propagação
Do outro lado da discussão, temos os ebooks, com seus custos bem mais baixos, e a internet, com o seu poder astronômico de propagação e renovação. O problema é que a facilidade traz liberdade, que leva à multiplicidade e por fim à quantidade. Com tanta gente escrevendo – ou tentando e querendo – escrever sobre o tema, como distinguir o que é bom e confiável? Como administrar o tempo para ler tudo? O que será usado como filtro? “O ebook é uma alternativa fácil para propagar conhecimento. É um modelo editorial novo e ajuda bastante quem trabalha com marketing digital,” afirma Victor Peçanha, da Rock Content. “Mesmo que uma pessoa compre o livro, ela acaba acompanhando mais sobre o assunto ou o autor em blogs ou sites.”
A Rock Content é uma empresa mineira que trabalha com marketing de conteúdo. A plataforma tem mais de 1.000 escritores freelancers cadastrados, que produzem o material para alimentar blogs e sites de empresas. Mensalmente, eles lançam ebooks sobre o tema com que trabalham. “São uma alternativa fácil para propagar conhecimento, explicar as pessoas o que fazemos e como fazer bem. É uma forma também de agregar valor e amplificar a percepção sobre nossa marca”, afirma Peçanha.
A história de Conrado Adolpho como autor sobre o tema mostra essa diferença: em apenas um mês, o seu ebook foi baixado mais vezes do que o seu livro impresso foi vendido em um ano. Para ele, os dois se complementam, trazendo tanto a credibilidade do impresso quanto o poder de propagação do digital.
Concatenando todos esses prós e contras, é possível tirar algumas conclusões:
– Livros impressos sobre marketing digital são ótimas ferramentas de consulta para conceitos e as teorias mais consistentes sobre o assunto. Não são boas fontes – ou pelo menos atualizadas – de exemplos e histórias de boas práticas e estratégias. Nesse ponto, a internet sempre será o melhor repositório. “O livro precisa focar em conceitos mais estáticos. Os cases e exemplos devem ser complementados pelos meios online”, diz Adolpho.
– Esses livros impressos não sobrevivem mais sem um bom casamento com suas versões digitais e a internet. Todo título precisa ter caminhos para outros links e sites externos, que possam ser usando e digitados no navegador do leitor. “O livro tem que ser um modelo de negócio, tem que se desmanchar em outras formatos de conhecimento”, afirma Adolpho. Esse livro pode virar um blog atualizado constantemente, ou um curso, uma série de palestras. E o ebook servirá para chegar mais longe, a mais pessoas. “A forma como o conteúdo vai ser distribuído tem de ser ampla. O livro não compete com os canais eletrônicos”, diz Peçanha.
Ainda acho que os ebooks e as plataformas colaborativas para escrever e divulgar essas publicações têm muito a crescer. E acho que todo interessado em marketing digital – ou outro tema – deve dar oportunidade para esses produtores iniciantes de conteúdo mostrarem um pouco os seus pontos de vistas. Para Adolpho, criar um público online e utilizar o seu feedback e participação pode ser algo positivo na hora de tentar lançar uma versão impressa.
A Widbook, uma plataforma em que as pessoas podem escrever e compartilhar seus livros em tempo real, montou um gráfico de como tornar seu ebook colaborativo em um best-seller – ou best-shared! Se você tiver boas ideias, um ponto de vista novo e inovador, vale a pena tentar.